O melhor Prefeito do Rio de Janeiro, o Marechal Francisco Marcelino de Souza Aguiar

Prefeito do antigo Distrito Federal do Brasil, Rio de Janeiro, de 16/nov/1906 a 23/jul/1909.

busto de Francisco Marcelino na Biblioteca Nacional do Brasil

Francisco Marcelino de Souza Aguiar nasceu em Salvador-BA, no Brasil, em 2/jun/1855, e, faleceu na Cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 10/nov/1935, aos 80 anos de idade.

Era filho do major baiano Francisco Primo de Sousa Aguiar, nascido em 1818, engenheiro militar e professor da Escola Militar e Presidente da Província do Maranhão (1861-62), e, de Johanna Maria Freund, judia austríaca de Viena, Áustria, nascida em 1834.

Francisco Primo de Souza Aguiar conheceu Johanna, ver abaixo, quando Francisco foi estudar na Áustria a serviço do Exército Brasileiro.

Salvador-BA foi o primeiro núcleo no Brasil de imigrantes alemães.

A família Freund perdeu muitos dos seus no Holocausto.

Freund em alemão quer dizer "Amigo". Pronuncia-se  FRÓÓ IN DI.

Depoimento de um Freund de Viena Áustria, portanto primo de Francisco Marcelino, sobre o Holocausto:

https://www.holocaustcenter.org/visit/library-archive/oral-history-department/freund-gert-wolfgang/

E um depoimento de uma senhora da Família Freund de Viena, Áustria, sobrevivente do Holocausto:

O major Francisco Primo de Sousa Aguiar, pai de Francisco Marcelino, foi presidente da Província do Maranhão, por carta imperial de 20/mar/1861, de 25/abril/1861 a 23/jan/1862. Em seu governo, enfrentou dificuldades oriundas da Guerra Civil nos EUA. (ver abaixo).

342. 1849, JULHO, 03 AHI 299 02 06 – Parte I – Avisos recebidos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Ministério dos Negócios da Guerra – 1ª Seção. h Aviso do ministro dos Negócios da Guerra, Manuel Felizardo de Sousa e Melo, ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda – Informa que o Imperador autorizou que o primeirotenente do 4º Batalhão de Artilharia, Francisco Primo de Sousa Aguiar, vá estudar na Alemanha, por um ano, a arte de pirotecnia, com especialidade na confecção dos foguetes Congreve, para fins bélicos. [Anexos: Aviso n. 1, de 3 de julho de 1849, contendo as instruções para o primeiro-tenente Francisco Primo de Sousa Aguiar; aviso n. 2, de 3 de julho de 1849, levando a autorização do Imperador ao conhecimento do Ministério dos Negócios Estrangeiros.]

355. 1850, OUTUBRO, 28 AHI 299 04 16 – Parte I – Avisos (minutas) expedidos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros ao Ministério dos Negócios da Guerra – 2ª Seção. h Aviso do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulino José Soares de Sousa, visconde do Uruguai, ao ministro dos Negócios da Guerra, Manuel Felizardo de Sousa e Melo – Solicita informações sobre o oficial brasileiro Francisco Primo de Souza Aguiar, enviado para estudar na Áustria pelo Ministério dos Negócios da Guerra.

O major Francisco Primo de Sousa Aguiar faleceu em 1868, deixando viúva e seis filhos. 

Francisco Marcelino ficou órfão de pai aos 13 anos de idade.

O Major Francisco Primo e Johanna Maria Freund tiveram os filhos:

Johanna de Aguiar; Antônio Geraldo de Sousa Aguiar; Maria Ignez de Aguiar; Benjamin Feliciano de Souza Aguiar; Francisco Marcelino de Souza Aguiar; e, Rosina de Souza Aguiar.

Por intermédio de sua mãe Johanna Maria Freund, Francisco Marcelino foi matriculado gratuitamente, aos 12 anos de idade, em 1867 ou 1868, no Colégio Pinheiro, e, depois no Mosteiro de São Bento, e, no Colégio Vitório, no Rio de Janeiro, então Município Neutro da Corte Imperial, capital do Império do Brasil. 

Francisco Marcelino de Sousa Aguiar

Em 1869, ingressou como cadete na Escola Militar (do Realengo) na Cidade do Rio de Janeiro.

Em 1871, concluiu os preparatórios para o curso superior, e em 1874 tornou-se alferes aluno.

Em 1876, foi promovido a primeiro-tenente e concluiu o curso de engenharia.

Em 1877, assumiu o posto de instrutor geral da Escola de Tiro de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil,

Permaneceu na  Escola de Tiro de Campo Grande até ser promovido a capitão em 1879. 

Nesse mesmo ano foi transferido para a Comissão de Engenharia do Rio Grande do Sul, e, entre 1880 e 1888, demarcou as fronteiras brasileiras com o Uruguai e construiu os quartéis de Bagé e São Gabriel. 

Também nesse período, em 1883, casou-se com Maria Gabriela Ferreira de Bicca, que nasceu no Rio Grande do Sul em 1870, e, faleceu, no Rio de Janeiro-DF, em 1955, filha de Clementino Ferreira Bicca e Eulalia Barbosa.

Francisco Marcelino e Maria Gabriela tiveram os filhos:

Eulália da Cunha Pires (pegou o nome da avó materna); Gabriel de Souza Aguiar; Francisco de Souza Aguiar; Geny de Souza Aguiar; America Lefki; a religiosa Maria Angelina de Souza Aguiar; Laura de Souza Aguiar; Rafael de Souza Aguiar; Miguel Angelo de Souza Aguiar; Louis Souza Aguiar que escreveu livro sobre o Palácio Monroe; Maria de Souza Aguiar, e, Eulália de Souza Aguiar (pegou o nome da avó materna).

Em 1888, ainda no Rio Grande do Sul, recebeu a patente de major, e, retornou em seguida ao Rio de Janeiro. 

Em 1891, foi promovido a tenente-coronel e nomeado comandante do Batalhão de Engenharia, onde projetou os quartéis dos Batalhões de Infantaria e Cavalaria. 

Em 1892, foi nomeado secretário do ministro da Guerra, (depois chamado Ministro de Exército).

Durante sua passagem pela secretaria, a pedido do Presidente da República marechal Floriano Peixoto, projetou o Hospital Central do Exército; hospital que contava com oito pavilhões isolados, os quais foram sendo concluídos em etapas, sendo o último inaugurado em 1916; décadas depois, o hospital foi demolido. 

Em 1892, foi lançada a pedra fundamental do novo hospital na grande área de 78.960 metros quadrados, adquirida ao Jóquei Club, no bairro de Benfica, na cidade do Rio de Janeiro.

o  Hospital Central do Exército

O novo hospital baseou-se na planta do Hospital San Juan de Dios, de Madrid, Espanha.

Leia mais sobre o Hospital Central do Exército brasileiro:

http://www.hce.eb.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=154&Itemid=299

http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/hosremili.htm

Ainda em 1892, integrou a comissão brasileira durante a Exposição Universal de Chicago, Illinois, EUA, realizada para comemorar os 400 anos do descobrimento da América pelos europeus. 

Em 1893, pediu exoneração do posto de secretário do ministro da Guerra.

Em 1894, assumiu a direção geral dos Telégrafos e foi promovido a coronel. 

Em 1896, tornou-se comandante da Escola Militar do Rio Grande do Sul, e, em 1897, comandou o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro-Distrito Federal. 

Foi autor do projeto do quartel central da corporação, cujas obras foram iniciadas em 1898, e, concluídas em 23 de maio de 1908.

Em 1903, deixou o comando do Corpo de Bombeiros e recebeu a Medalha de Ouro do Mérito Militar. 

Em 1904, foi presidente da Comissão de Representação do Brasil na Exposição Universal de Saint Louis, no Estado do Missouri, EUA, dos 100 anos da compra da Louisiana pelos EUA, na qual obteve o Grande Prêmio de Arquitetura com o projeto do Pavilhão do Brasil. 

Leia sobre a compra da Louisiana:

https://history.state.gov/milestones/1801-1829/louisiana-purchase#:~:text=Napoleon%20decided%20to%20give%20up,States%2C%20the%20West%20was%20elated.

Ao conceber o depois chamado Palácio Monroe inspirou-se na arquitetura francesa, empregou elementos neoclássicos e art nouveau, e para construí-lo utilizou uma estrutura totalmente metálica, o que foi considerado uma inovação na época.

Ainda nos EUA, a pedido do ministro do Interior, criou o projeto do edifício da Biblioteca Nacional. 

Por solicitação do ministro da Fazenda, estudou a fabricação de cédulas para a implantação dos serviços da Casa da Moeda. 

Francisco Marcelino de Sousa Aguiar

Estudou também o sistema norte-americano de fabrico da pólvora sem fumaça, a pedido do ministro da Guerra.

Ao retornar ao Brasil, foi promovido a general de brigada e encarregado da construção do edifício da Biblioteca Nacional, que seria inaugurado em 1910, quando Souza Aguiar já não era mais o prefeito, e encarregado da remontagem do Pavilhão do Brasil que se tornou o Palácio Monroe, Senado Federal.

Durante a modernização do Centro do Rio de Janeiro realizada pelo então prefeito Pereira Passos, foi reservado um terreno na antiga Avenida Central (atual Av. Rio Branco) para a construção de um novo prédio, projetado pelo engenheiro militar Francisco Marcelino de Souza Aguiar especialmente para sediar a Biblioteca Nacional. 

Com aproximadamente 13 mil m2, a nova sede passou a contar com cinco pavimentos, sendo que nas alas exclusivas para guarda do acervo, mezaninos feitos de estruturas metálicas dividem cada andar em três, ampliando assim a capacidade dos armazéns.

foto histórica da Biblioteca Nacional

Leia mais sobre o prédio da Biblioteca Nacional:

O pavilhão do Brasil no Centenário da Louisiana foi remontado no fim da avenida Central, no Rio de Janeiro, e inaugurado em 23 de julho de 1906, com o nome de Palácio Monroe em homenagem a James Monroe que negociou na França a compra da Louisiana.

James Monroe negociou a compra da Louisiana

Nos anos seguintes, o Palácio Monroe abrigaria  o Senado Federal, até a mudança para Brasília, e depois o Tribunal Superior Eleitoral e o Estado-Maior das Forças Armadas, até ser demolido em 1976. 

O Palácio Monroe foi derrubado, em 1976, por ordem do presidente da república Ernesto Geisel e pelo Presidente do Senado Federal, o senador José de Magalhães Pinto da ARENA-MG. 

Seu filho Louis de Souza Aguiar escreveu livro sobre o Palácio Monroe. 

E justo o Louis que escreveu o livro. 

Louis de Souza Aguiar recebeu este nome em homenagem à cidade de Saint Louis, no Estado do Missouri, EUA, onde ocorreu, em 1904, a Exposição do Centenário da Compra da Louisiana, territórios franceses vendidos aos EUA, por Napoleão Bonaparte, em 1803.

O demolido Palácio Monroe no centro da cidade do Rio de Janeiro-RJ


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o demolido Palácio Monroe


Em 1974, o Palácio Monroe já estava ameaçado, e, já se tentava, em vão, salvá-lo:



Nomeado pelo presidente da república do Brasil Afonso Pena (1906-1909), Francisco Marcelino foi empossado prefeito do Distrito Federal em 16 de novembro 1906, sucedendo a Francisco Pereira Passos. 

Em seu novo posto deparou-se com problemas administrativos e financeiros, entre eles dívidas, obras inacabadas, salários atrasados, compromissos vencidos e contas a pagar até o fim do ano de 1906, além dos compromissos contratados para 1907. 

A fim de regularizar a situação financeira da prefeitura, contraiu um empréstimo externo. 

A Lei nº 1.620, de 31 de dezembro de 1906, que obteve do Congresso Nacional, autorizou a prefeitura a solicitar no exterior um empréstimo de no máximo dez milhões de libras para quitar as dívidas acumuladas. 

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro-DF, por sua vez, também autorizou o prefeito a obter empréstimos até o valor citado.

 Durante sua gestão, a arrecadação de rendas do Distrito Federal e o patrimônio municipal cresceram consideravelmente. 

Alguns avanços na educação foram obtidos, com a construção de novas escolas e a contratação de professores, o que resultou na ampliação do número de matrículas oferecidas pela prefeitura às crianças em idade escolar, chegando-se ao total de 61.414 vagas em 1908.

Inaugurou-se o Externato Profissional Sousa Aguiar, instituto de educação profissional para rapazes e moças. 

Criaram-se também condições para que a população contasse com um serviço público de assistência médica mais eficiente, através da inauguração do Posto de Assistência Central na rua Camerino, em 1907, e do Posto de Assistência da Praça da República, em 1909, um edifício mais amplo e bem equipado, que viria a se chamar Hospital Sousa Aguiar.

O prefeito tomou ainda medidas de controle higiênico, sanitário e ecológico, entre as quais a análise da qualidade da água nas escolas municipais, a utilização de incineradores de lixo no aterro sanitário da ilha de Sapucaia e a proibição do uso de lenha e carvão nas matas do distrito. 

Por meio do Decreto nº 1.134, de 11 de julho de 1908, proibiu o corte e derrubada das árvores da mata. 

Foi responsável por regulamentar a produção, o transporte e o armazenamento de produtos inflamáveis, explosivos e corrosivos. 

Outra marca de sua gestão foi o estímulo à expansão da cidade no sentido Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro, isentando de taxas de licença quem construísse em Copacabana, Leme, Ipanema e Campo do Leblon. 

Construiu a avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, concluída em 5 de outubro de 1908.

Concretizou também a ideia concebida em gestões anteriores de erguer moradias para o proletariado, construindo três vilas operárias, a primeira delas na avenida Salvador de Sá, concluída em 1908.

Já em 1907, assinara contratos para a construção de prédios que abrigariam operários. 

Houve aumento considerável no número de construções e reconstruções na cidade, bem como maior fiscalização das concessionárias de transporte público pela prefeitura, principalmente no tocante à qualidade do serviço prestado. 

Após negociar com a construtora responsável pelas obras, Sousa Aguiar inaugurou o Mercado Municipal ainda em 1907. 

A pedido do presidente Afonso Pena, concebeu e conduziu a reforma do palácio Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro, reinaugurado em 1908. 

Medalha do Centenário do Nascimento - 1855-1955

Prosseguiu com a construção do Pavilhão Mourisco de Manguinhos (principal prédio da Fundação Oswaldo Cruz), concluiu as obras do Museu Nacional de Belas Artes em 1908, e, do Teatro Municipal em 30 de junho de 1909, sendo este inaugurado em 14 de julho seguinte. 

Deu continuidade às obras de pavimentação das ruas, promovendo o calçamento de uma área equivalente a 149.596m². 

A Exposição Nacional de 1908, realizada pelo governo federal para celebrar o Centenário da Abertura dos Portos, teve a intenção de mostrar aos visitantes uma face desconhecida da cidade: 

a de uma capital saneada e urbanizada 

graças à contribuição dos prefeitos Pereira Passos, e, Sousa Aguiar. 

Em decorrência do falecimento do presidente da República Afonso Pena, cujo lugar foi ocupado interinamente por Nilo Peçanha, Sousa Aguiar foi substituído pelo general Inocêncio Serzedelo Correia na prefeitura do Distrito Federal, deixando o cargo em 23 de julho de 1909. 

Em 1910, exerceu pela última vez um cargo militar no Ministério da Guerra, o de inspetor da II Região de Inspeção Permanente, com jurisdição sobre o Pará e Aricari (o atual Amapá).

Em 1911, foi promovido a general de divisão, e, reformou-se no posto de marechal. 

Escreveu um livro, em 1905, sobre a Exposição da Louisiana que ocorreu em 1904.


Francisco Marcelino escreveu um livro, em 1910, sobre a siderurgia no mundo: 

Estudo completo país por país e com muitas fotos:


É homenageado dando seu nome ao Hospital Souza Aguiar no Rio de Janeiro-RJ.

É trisavô da engenheira Cristina de Souza Aguiar, que herdou sua inteligência e criatividade.

O Marechal Francisco Marcelino de Sousa Aguiar faleceu em sua residência, na rua Paissandu 222,  na cidade do Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal, em 10 de novembro de 1935, as 13 horas, aos 80 anos de idade, deixando a viúva Maria Gabriela de Ferreira de Bicca Sousa Aguiar, e, 7 filhos:

- Gabriel de Sousa Aguiar, engenheiro-chefe da Diretoria de Engenharia da prefeitura do Rio de Janeiro;

- Miguel Ângelo de Sousa Aguiar, engenheiro da Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo;

- Louís de Sousa Aguiar, médico; escreveu livro sobre o Palácio Monroe.

- Capitão Rafael de Sousa Aguiar; Chegou a general.

- Geny, casada com Domecq de Barros;

- América, casada com Eugenio Lefki; e,

- A religiosa Maria Angelina, do Colégio Sion de Petrópolis-RJ.

No enterro do Marechal Francisco Marcelino, sua família dispensou as honras militares a que o marechal tinha direito.

A família aceitou a oferta do prefeito do Distrito Federal Dr. Pedro Ernesto de a prefeitura arcar com as despesas do enterro, no Cemitério São João Batista, a qual decretou luto oficial de três dias na cidade do Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal.

O Filho General Rafael de Souza Aguiar discursou sobre o pai:



Uma passagem sobre Francisco Primo de Souza Aguiar, governador do Estado do Maranhão no Brasil:
"Tendo o Brasil reconhecido aos Estados Confederados do Sul o caráter de beligerantes, permitiu o presidente do Maranhão, major de engenheiros Francisco Primo de Sousa Aguiar, que se abastecesse em São Luís, em setembro de 1861, o navio Sumter, o que motivou protestos do governo dos Estados Unidos, muito bem respondidos pelo ministro Magalhães Taques.
A nota do imperador refere-se à réplica do general Webb.
O incidente foi encerrado meses depois, pelo marquês de Abrantes, novo titular dos Negócios Estrangeiros".

- Cf. Hélio Lobo - Cousas diplomáticas (Rio, 1918), p. 133-141 - Antoine Pacquet (1701-1762) e Laurent Basile Hautefeuille, internacionalistas franceses, o segundo autor de Des Droits et des Nations Neutres, obra de 1848-1849.
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A primeira ocorreu quando o cruzado Sumter, pertencente aos Confederados, atracou no Maranhão (no mesmo ano) para reabastecer e James Watson Webb, ministro dos Estados Unidos, exigiu satisfações do Império, pois qualificava como intolerável o procedimento do Presidente daquela Província, Francisco Primo de Sousa Aguiar, que permitiu a entrada da embarcação no porto após seu comandante apresentar patente militar e não estar armado por particulares (LOBO, 1914b: 20). 

Os reiterados ofícios de explicação do governo brasileiro, que entendia não haver quebrado a neutralidade, geraram mais notas de protestos do governo estadunidense, dessa vez assinadas pelo Secretário de Estado William Seward (LOBO, 1914b: 19-23). 
No entanto, a desinteligência não ultrapassou as correspondências diplomáticas.


Outro caso de um famoso relatório que fez Francisco Primo de Sousa Aguiar como presidente da província do Maranhão:

Temores de insurreição foram a tônica da imprensa e da correspondência policial do Maranhão nos anos 1860. 
Em 1861 chegaram a São Luís denúncias sobre rebeliões escravas com planejamento em curso em Anajatuba. Falava-se “que diversos escravizados formavam clubes em alguns lugares da vila, nos quais declaravam que eram livres, pois que existia na barra um vapor de guerra, que os vinha libertar, e que por esse motivo não deviam mais obedecer a seus senhores”.
Um escravizado – Agostinho, de propriedade de Cristóvão Vieira – foi acusado de incitar as senzalas na região, falando em liberdade e rebelião. Sob castigo acabaria confessando “que era verdade ter declarado a seus parceiros, 164 ESTUDOS AVANÇADOS 33 (96), 2019 que todos seriam livres, pois que o ouvira dizer a vários pretos nesta capital, e que só esperavam que o vapor de guerra desembarcasse a tropa”. 
Descobriu-se que “semelhante ideia tem sua origem na entrada neste período de dois vapores de guerra, um dos Estados Unidos da América do Norte e outro dos Estados, que se querem constituir em Confederação separada”. 
Notícias sobre a guerra civil nos Estados Unidos estavam chegando aos mocambeiros e escravizados maranhenses. 
As autoridades pareciam mais temer o medo do que a origem deles.
Um delegado de polícia concluiria que não tinham os escravizados “plano algum concertado”, na verdade “apenas nutrem esperanças de sua liberdade”. 
Não obstante, como precaução mandaria reforçar o policiamento da região, visando “neutralizar qualquer plano, que a questão dos Estados Unidos da América do Norte possa fazer aqui aparecer entre os escravizados”.

Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Série Presidentes de Província (MA), Fundo, IJ1 754, Ofícios de Presidentes de Província/Maranhão (1863), Ofício do Presidente de Província Francisco Primo de Sousa Aguiar enviado ao Ministro do Justiça, Conselheiro Francisco de Paula Negreiros Sayão Lobato, 17.10.1861


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